É com prazer que compartilho essa entrevista do Dr.Edison Saraiva. Dr. Edison é um excelente médico, homeopata e nutrólogo. São raros os médicos que entendem de nutrição nos dias atuais, e ele entende. Além disso ele é um grande pesquisador e estou muito feliz em compartilhar suas ideias aqui no blogue.
Breve histórico
A um tempo atrás tive um sério problema nos dedos da mão. As pontas dos dedos ressecavam, rachavam e sangravam num clico ininterrupto e dolorido. Procurei 3 médicos dermatologistas e cheguei a fazer uma biopsia por suspeita de câncer. Todos os médicos que procurei sempre me apresentavam soluções paliativas, nenhum deles conseguiu me dizer exatamente o que estava acontecendo. Nenhum deles se preocupou com a causa.
Conheci o Dr. Edson após esta longa jornada. Quando ele viu meus dedos me disse que se tratava de uma doença autoimune. Essa doença autoimune está sendo desencadeada no seu intestino provavelmente por intolerância ao glúten. Confesso que duvidei. Nunca tivera problemas com o glúten antes e associar meu intestino ao que estava acontecendo com minha mãos era difícil. Mas confiei.
Tirei o glúten, e comecei a usar uma pomada feita com meu próprio sangue, que aplicava nos dedos. Em 3 semanas meus dedos estavam muito melhor! Que alívio! Dali pra cá, ele virou meu médico, um conselheiro e um amigo.
Hoje em dia houve um distanciamento entre alimento e saúde. As pessoas tem dificuldade em associar suas doenças ao tipo de alimentação que fazem. Dentro deste contexto, qual o peso, de 0 a 10, que você diria que a alimentação tem na saúde da pessoa?
Dependendo da pessoa, dependendo da patologia que a pessoa tenha, de 6 a 10. Se a pessoa herdou uma genética boa de 6 a 7 e se ele herdou uma genética ruim, nota 10. Filogeneticamente, nós os seres humanos e o alimento viemos numa pegada de milhares de anos aonde existe um dialogo. O alimento não é só quantitativo, ou seja, carboidratos, proteínas e gorduras. Essa visão é um tanto mecanicista. O alimento dialoga com nosso corpo, é uma unidade de informação que dialoga com seu sistema.
Nós temos uma comunidade de informações que se expressa através dos genes e o alimento também. Esse dialogo é extremamente importante. Tanto, que quando os americanos começaram a enviar astronautas para o espaço, eles calcularam os 49 nutrientes e fizeram uma farinha com os nutrientes necessários. Mesmo assim os astronautas voltavam desnutridos, sem músculo, com perda óssea. Porque não é a mesma coisa.
O dialogo mostra que existe mais do que o quantitativo de nutrientes. Muitas vezes quando você coloca uma alimentação com um amplo aspecto de nutrição, você consegue informar ao sistema hormonal e endócrino que ele tem que adotar determinados caminhos bioquímicos de saúde. Essa é a diferença entre doença e saúde. O alimento é uma unidade de informação inteligente. É um origame de inteligência que a natureza montou e dialoga com nossa genética.
Quais os 5 pilares da saúde?
Vamos colocar que sejam 6 pilares.
Sol é a molécula 1
A vitamina D não é apenas um nutriente. Ela é na verdade uma unidade inteligente, que vem do sol e que diz alguma coisa para o corpo, a nível de pictograma. O que ela diz para o corpo é uma mensagem metafórica, que na verdade não conseguimos definir. Com a vitamina D acontece algo parecido com Tom Jobim. Uma vez perguntaram a Tom Jobim porque ele fazia musicas tão lindas e ele respondeu que ele apenas escolhia as boas teclas. É mais ou menos como a vitamina D no nosso corpo, ela só dialoga com os bons genes.
Ar
A respiração não é só uma questão de inspirar e expirar. Tem toda uma maneira de acionar músculos que são fundamentais para produzir, por exemplo, um estado de concentração mental. As crianças por exemplo respiram de forma tridimensional. Elas respiram peitoralmente, intercostalmente e abdominalmente. Hoje em dias nas grande cidades as pessoas somente respiram superficialmente, basicamente com os ombros. O processo da prensa respiratória, se bem prensada, é vital para nós. O ar não é só O2. Tem energia vital no ar que dialoga conosco. Precisamos trazer a metafísica de volta. Tiramos a metafísica, e deixamos a física e a química, e isso não traz o modelo todo. Assim como não podemos reduzir o alimento ao quantitativo nutricional, não podemos reduzir o ar ao seus constituintes químicos, pois é muito mais que isso.
Água
A água é quem leva nutrientes e tira toxinas. Esse é o fluxo de água, através de gradientes osmóticos, gradientes de concentração iônicas. São diversos gradientes, a água viva vai atravessando essas barreiras e levando nutrientes e tirando toxinas. É uma maré d’água no organismo.
Atividade física
Principalmente caminhar. Somos uma raça que temos a necessidade de produção de uma energia chamada piezoelétrica. Nós somos uma raça que chegamos aqui andando, correndo e nadando algumas vezes. Mas basicamente, andando. Nossos ancestrais são andarilhos e caminhantes. É fundamental esse movimento do andar, até para dormir bem.
Nutrição
Em cima disso vem a nutrição, o alimento. Você monta essa mesa e coloca o alimento em cima. E como eu disse, ele comunica algo para você, é mais do que a soma de partes.
E o glúten?
Depende. A situação é perguntar que glúten? Estamos numa época aonde precisamos perguntar, que vaca? Que glúten? De que nós estamos falando? A partir de 1954 o Banco Rockfeller resolveu ser dono da semente de trigo no mundo. Nós tínhamos mais de 200 tipos de cultivo de trigo. O trigo antigo, triticum mesopotamium, era uma monocotiledônea com quase 2 metros de altura, que era cultivada na região do Tigre e Eufrates, onde começamos o processo da agricultura. Quando começávamos a migrar, levávamos nossas sementes, plantávamos e colhíamos, fazendo assim uma seleção natural, colhendo os grãos melhores e maiores de forma transgeracional. Isso se dava de uma maneira lenta, progressiva e adaptada levando em consideração as características edafoclimáticas e fenológicas da área. Era um processo lento.
Dragão moderno
A partir de 54, resolveram fazer este dragão moderno chamado glúten, que tem 2,5/3 vezes mais de um aminoácido chamado prolina. No glúten temos gliadina e glutenina.
Gliadina é um colar de pérolas onde cada pérola é um aminoácido. Temos uma sucessão de propinas e glutaminas no glúten. Essa transformação no glúten, primeiramente, foi feita por radioatividade, pois não havia ainda engenharia genética na época. Inicialmente, em grandes estufas, eles cruzaram mais de 200 tipos de trigo, aplicando radioatividade para produzir mutações genéticas de forma acelerada.
Chegaram então ao Triticum vulgare que é um tipo de trigo anão de 40 cm ideal para a colheita em roçadeiras. Provavelmente esse trigo moderno passou por transgênia. O glúten dos nossos antepassados, lá da Mesopotâmia, era um. O glúten hoje é outra coisa. Estamos falando de um outro glúten, que eu não sei qual o nome que daríamos para ele . O glúten moderno tem muita prolina, e prolina é um aminoácido extremamente inflamatório. O glúten moderno não é o glúten do meu antepassado. E eu não posso raciocinar da mesma maneira.
Os diferentes tipos de sensibilidade
Dr. Alessio Fasano, que é a maior autoridade mundial em doença celíaca hoje, com o grupo dele da universidade de Maryland , encontrou um anticorpo que mudou essa historia de doença celíaca. O problema hoje é a sensibilidade ao glúten, não celíaca. Ele tem livros falando da sensibilidade ao glúten não celíaca. Hoje temos alergia ao trigo tradicional, que é muito rara, medida por um anticorpo chamado IGE. É quase como uma alergia a camarão. Você logo percebe desde criança, mas é raríssimo. A criança usa e tem um broto alérgico forte.
Tem a doença celíaca propriamente dita. Uma novidade é a sensibilidade não celíaca ao glúten que está virando uma epidemia. Pra mim, está relacionada a esta modificação estrutural que se fez no glúten. Não se trata de uma resposta imunológica. Esse glúten moderno produz uma reação tóxica através de opióides. É uma coisa que precisamos estudar, e não é visualizável através de exames de sangue, que são apenas para localizar doença celíaca. Provavelmente as pessoas que tem a sensibilidade não celíaca ao glúten apresentam determinados indicadores na urina.
A melhor maneira de verificar a sensibilidade é tirar o glúten da dieta e ver como se sente.
A melhor maneira de verificar a sensibilidade é tirar o glúten da dieta e ver como se sente. Não existe marcador padrão ouro para a sensibilidade não celíaca ao glúten. Se tirar da dieta, e verificar que houve uma melhora na pele, regularização do ciclo menstrual, está verificada a sensibilidade. Não existe laboratório melhor do que experimentarmos no próprio corpo. Retirar um alimento e ver as melhoras.
As vezes os resultados dos exames laboratoriais não acusam determinado problema, mas o problema existe no quadro clínico relatado pelo paciente. Lembrando que exames laboratório são complementares ao diagnóstico. Laboratório é importante sim, mas é sempre complementar. Parece que a medicina atual está esquecendo isso hoje. As vezes a pessoa tem todos os sintomas, mas no exame dá negativo, o médico considera que não tem o problema, mas tem.
Você associa depressão a desnutrição?
Sim. Vou usar um reducionismo barato. Hoje os psiquiatras parecem pensar que nós somos depósitos de serotonina. Então você só existe porque você carrega dopamina e serotonina. Todos os 350 milhões de anos da história evolutiva foram feitos para que o ser humano carregasse serotonina e dopamina. Isso é absolutamente um absurdo. Nem o próprio Decartes imaginaria um reducionismo tão bruto. Vamos usar a serotonina como um marcador importante para entender. Não que você possa reduzir a depressão e ansiedade à questão da serotonina.
Uma questão fundamental para o corpo é a capacidade de gestão e absorção, que é diretamente proporcional à quantidade de vilosidades ou vilos, como se fossem fios, que o intestino tem pra dentro do tubo, quanto maiores e mais fios você tem no intestino delgado mais você digere e absorve bem os nutrientes.
Antidepressivos
Geralmente eu peço um exame que mede serotonina no sangue. Tristemente as pessoas que tomam esses antidepressivos, que são inibidores de recaptação de serotonina, deveriam ter, paradoxalmente, serotonina no sangue. Porém, elas tem serotonina baixa. Por que? uma possibilidade é que as células produtoras de serotonina, que estão nas vilosidades, estão atrofiadas. As vilosidades humanas estão atrofiadas, a flora ou microbioma humano está muito, muito alterado.
Daqui a 10 anos teremos marcadores genéticos para ver a flora de uma pessoa, seu microbioma. Há 10 anos iniciou-se a genotipicidade da flora intestinal, o que nos deu mais visão sobre esse universo. Nós podemos nos intitular hoje como nós-as bactérias. Bactéria hoje é órgão humano e produz muita coisa importante, e pode também produzir muita toxina.
Microbioma
Muitas vezes a diferença entre saúde e doença está ali no microbioma. As pessoas costumam chamar o intestino de segundo cérebro, eu costumo chamar de primeiro. Se cai o intestino, o fígado cai logo depois, pois ele não vai aguentar a quantidade de toxina. O pobrezinho do neurônio não tem discernimento. O neurônio usa o que entrar, ou seja, caiu a barreira do intestino, caiu a barreira do fígado, entra toxinas para os neurônios. Muito da saúde cerebral das pessoas se inicia no intestino e o intestino é o que tu comes. Você pode comer algo que incentiva um bando de baterias ruim ou podes comer algo e incentivar um bando de bactérias boas. Você tem que ter um alto nível de probióticos no intestino, e isso depende do que tu comes. E vai depender disso a sua capacidade de digestão, absorção e produção de serotonina por exemplo. 95% da serotonina no corpo é produzida no intestino.
Então cuidando do nosso intestino caminhamos para mais perto da nossa felicidade?
Eu sou um exemplo disso. Eu tenho 66 para 67 anos de idade. Eu produzo grande parte do alimento que eu como ou compro de pessoas que eu sei como produziram. Você quer mudar o mundo? Começa pelo teu alimento. Ou você planta ou você sabe quem plantou. Saiu agora na ONU que a fome do mundo, que é um problema político e não de produção, a agricultura familiar pode solucionar esse problema. Uma boa forma de votar é procurar pessoas que entendam um pouco disso, que entendam sobre alimentação da população.
Outra coisa é o açúcar. Só de você tirar açúcar da sua vida você já é dono de você mesmo. A humanidade não é dona de si mesma. Veja, se você usa uma colher de chá de açúcar por dia, você come 60 quilos de açúcar por ano. Por ano, são 12 mil colheres de chá de açúcar. Você acha que isso vai dar certo? É uma pergunta simples, você acha que isso vai dar certo? Claro que não. Isso é um problema grave. É mais grave do que tabaco. Todo mundo, até o fumante, sabe que aquilo é uma porcaria. Mas quando falamos de açúcar a história é outra. Vai convencer alguém que açúcar é ruim! Outra coisa, ninguém come açúcar, as pessoas chegam no consultório e todos falam que não consomem açúcar. Quem comem são os fantasmas que vivem por aí… que vivem comendo açúcar nas prateleira dos supermercado que só tem açúcar. Tudo tem açúcar.
Quais os 5 piores alimentos, que devemos considerar como venenos e não consumir?
Açúcar! Seja branco, seja mascavo, seja o que for. Refrigerantes e todos os veículos do açúcar.
Margarina. O diabo gastou muito a cabeça dele para desenvolver o marketing da margarina. Aquilo está a um passo do plástico.
Óleos vegetais, todos. De soja, canola, milho. Os óleos são extraídos quimicamente em alta temperatura e com o uso de solventes como benzeno por exemplo. Tem um grau imenso de peroxidação. Daí as pessoas dizem “mas é pouquinho”. O que manda no corpo, no sentido do que inflama e do que não inflama, se aciona ou não o metabolismo, libera imunologia ou freia imunologia, está na escala de pictograma, ou seja, um trilhão da grama, então não existe pouco para o corpo.
Conservantes: corantes, emulsificantes, flavorizantes, ou seja, tudo de gôndolas de supermercado
Farinhas, brancas e desvitalizadas como a farinha de trigo
Milho transgênico
Carne – A maneira como criamos, matamos e processamos a carne faz dela um péssimo alimento.
Mas o pior é açúcar. Se tirássemos o açúcar nossa conta da saúde ia cair 60%. As doenças cardiovasculares, cerebrovasculares, Alzheimer, que é diabetes cerebral, todas reduziriam.
Quais os alimentos que você indica como construtivos?
Ovo, não óvulo. Ovo tem 49 de 50 nutrientes. É uma alimento interessante. Tem os 4 tipos de fosfolipídeos que a gente precisa.
Frutas com pouca frutose, ou seja, de baixo índice glicêmico. Hoje, infelizmente, as frutas são trabalhadas para terem muita frutose.
Abacate sempre tá comigo. Abacate é de Deus.
Verduras em geral. Meu prato é enverdurado. Muitas cores. Dentre as verduras, as crucíferas são as melhores, pois tem alto conteúdo de enxofre que varre o lixo do corpo. Couve, couve-flor, brócolis. Verduras são maravilhosas. As verduras dos antigos do brasil, hoje conhecidas como PUNCS (Plantas Alimentícias Não Convencionais), como por exemplo a beldroega. Beldroega tem mais ômega do que qualquer coisa na terra. Equivale a peixe de mar frio. A linhaça, alguns tubérculos como por exemplo, batata yacon, amido resistente da banana verde, que as bactérias amigas gostam muito.
Uma mensagem final
Um velho ditado romano, enquanto Roma ainda era legal: Grande abdômen não gera espírito sutil.